A transição energética é um processo abrangente que visa uma mudança gradual para uma economia de baixo carbono e implica em uma nova condição, com um olhar mais amplo e sistêmico para a sustentabilidade ambiental e social. Essa mudança, no entanto, não se limita apenas à geração de energia, mas engloba também o seu consumo e reutilização, bem como a transição de fontes poluentes para fontes renováveis de energia.
Além disso, por compreender que a energia do futuro é renovável, a transição energética leva em conta outras medidas necessárias para alcançar o objetivo comum de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE), como a gestão de resíduos, eficiência energética, digitalização e outras soluções inovadoras. Dessa forma, a transição energética é fundamental para alcançar a sustentabilidade ambiental e social, e é um processo que deve ser implementado de forma integrada, com o envolvimento de diversos setores da sociedade e da economia.
Transição Energética: O que É
A transição energética é um conceito que aponta mudanças na matriz energética mundial. É a evolução necessária para a economia de baixo carbono, que abrange não apenas a geração e consumo de energia, mas também o uso eficiente de bens e serviços, reconhecendo que é insustentável, em todos os aspectos, incluindo o econômico, continuar consumindo recursos naturais no ritmo atual.
Tal mudança implica em transformações nas estruturas sociais, políticas e culturais, e é sustentável em todos os aspectos, incluindo o econômico. As fontes de baixo carbono são um dos condicionantes dessa transição, que se baseia no desenvolvimento sustentável, mudanças climáticas, inovações tecnológicas, digitalização e uso eficiente dos recursos energéticos.
O cenário atual exige uma ação rápida e imediata visando a mitigação das emissões de gases de efeito estufa (GEE), visando evitar catástrofes climáticas ainda maiores do que as já observadas. Nesse contexto, os biocombustíveis podem acelerar a transição energética no curto prazo e ajudar a reduzir as emissões de gases do efeito estufa, o que é essencial para evitar o avanço das mudanças climáticas, adicionando a isso o fato de que tal decisão corrobora com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), propostos pela Organização das Nações Unidas:
ODS 3- Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas e todos, em todas as idades;
ODS 7- Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todas e todos;
ODS 11- Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis;
ODS 13- Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos.
A Importância
A transição energética se tornou imperativa na tentativa de contornar as consequências da mudança climática no planeta, mas engana-se quem pensa que os benefícios obtidos produzem efeitos exclusivamente na esfera ambiental. Sem dúvida, as fontes renováveis reduzem a poluição e melhoram a qualidade do ar (como no caso da mobilidade elétrica), mas a mudança de paradigma produzida pela transição energética representa também uma grande oportunidade em termos de bem-estar econômico, com o aumento da oferta de empregos e desenvolvimento social das comunidades envolvidas.
Exemplo disso, à evolução das tecnologias renováveis está ligado também o surgimento de novas áreas de atuação profissional, impulsionando a produção de conhecimento, bem como a qualificação e especialização dos profissionais no ramo dessas tecnologias e mercado, os chamados green jobs, enquanto a desativação das antigas centrais de extração de combustível fóssil pode ser acompanhada da requalificação de técnicos e pessoal operacional, a ser profissionalizado em outros setores. O combate à pobreza energética em muitas áreas do planeta e os investimentos para garantir acesso à energia limpa para todos também representam uma grande oportunidade de desenvolvimento para as comunidades locais.
Outra instância de alcance da transição energética é a área de eficiência energética, que, em linhas gerais, remete à capacidade de, sem abdicar da qualidade, atingir o melhor rendimento possível com menor uso dos recursos disponíveis. De modo a viabilizar isso, a transição energética para uma economia de descarbonização e suas mudanças deve passar por mais campos, como um melhor uso do solo e manejo de terras cultiváveis, melhor aproveitamento de resíduos, eletrificação do transporte, otimização dos sistemas de transmissão e diversificação do portfólio de energias renováveis.
Isso pois os impactos das emissões de GEE já são observados, como a perda de ecossistemas, danos à saúde humana, aumento da insegurança alimentar e, por isso, a urgência em reduzi-las rápida e imediatamente, de modo que projeta-se que, segundo o acordo internacional assinado em dezembro de 2015 na COP21 de Paris, é necessário manter o aquecimento global em, no máximo, 2 graus em relação aos níveis pré-industriais, preferencialmente limitando-os a 1,5 graus, até o fim do século, e alcançar a chamada Carbon Neutrality até 2050.
Algumas das vantagens da mudança energética incluem:
- Redução da dependência de recursos fósseis;
- Aprimoramento da matriz elétrica e energética globais;
- Redução das emissões de gases do efeito estufa de forma rápida (descarbonização) para combater o aquecimento global;
- Preservação de ecossistemas e minimização dos impactos ambientais;
- Diminuição de danos à saúde humana e ameaças à segurança alimentar;
- Utilização de energias renováveis e tecnologias de captura e armazenamento de dióxido de carbono;
- Estímulo ao uso de tecnologia e soluções inovadoras em processos produtivos;
- Estímulo à adoção dos princípios da Economia Circular em diferentes processos, produtos e negócios, com o objetivo de reduzir a geração de resíduos;
- Garantia de bem-estar social e melhoria na qualidade de vida.
Os 5 Ds da Transição Energética
Sendo a transição energética é um processo fundamental para trilhar um caminho rumo a uma economia viável e sustentável, e para que tal mudança seja concretizada, é importante que cinco etapas essenciais sejam respeitadas, também conhecidas como os 5Ds da transição energética:
1 – Descarbonização:
Refere-se à substituição das fontes de energia que emitem CO2 por fontes renováveis, como energia eólica, solar e de biomassa, dentre outras, com o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
2 – Descentralização:
A descentralização visa à produção e distribuição de energia em menor escala, permitindo que qualquer pessoa física possa produzir e distribuir sua própria energia, como no caso da energia fotovoltaica, o que evita desperdícios no transporte e contribui para uma transição energética mais sustentável.
3 – Digitalização:
A digitalização refere-se à integração entre a produção energética e as tecnologias digitais, visando a otimização, automação e aceleração do processo de transição energética.
4 – Desenho de mercado:
O desenho de mercado aborda a forma como os mercados financeiro e de trabalho interagem com as mudanças no setor energético e como a energia será comercializada. Isso envolve a regulamentação, incentivos financeiros e impacto socioambiental da transição energética.
5 – Democratização:
Busca reduzir as desigualdades no acesso à energia e incentivar a produção de energias limpas e renováveis durante a transição energética. Para ser sustentável, é necessário considerar também a dimensão social e a inclusão de todos os indivíduos no processo.
Por meio dessas cinco etapas, uma transição energética bem-sucedida é possível, assim como suas consequências na criação de um futuro positivo para as próximas gerações.
Transição Energética no Brasil: o Nosso Cenário
No Brasil, a produção e consumo de energia a partir de fontes renováveis é tão importante quanto o acesso à energia elétrica, sendo, no país, o maior percentual, já há anos, proveniente de fontes renováveis, as hidrelétricas. Apesar da universalização da energia estar bem avançada, há populações isoladas que ainda dependem de usinas termelétricas ou outras soluções locais, representando menos de 1% da carga total do sistema, bem como ainda há uma dependência de combustíveis fósseis em áreas como transporte e deslocamento, visto que o principal meio de transporte brasileiro ainda é o rodoviário. Nesse sentido, o RenovaBio, programa que estimula a adesão à expansão dos biocombustíveis, é conhecido mundialmente, sendo hoje o maior programa de descarbonização na área de transportes.
Temos também a bioeletricidade e a biomassa para geração de calor e operações mecânicas, sendo fundamentais como alternativa ao uso do combustível fóssil, como estabelecido pela NDC (sigla em inglês para Contribuição Nacionalmente Determinada), metas que envolvem compromissos criados por cada país participante do Acordo de Paris.
Assim, o Brasil já tem um sistema energético renovável considerável, que representou 50% da matriz em 2022, estando ainda mais avançado em termos de energia elétrica renovável, com cerca de 85% da matriz de geração dentro desse espectro.
O Brasil tem um bom desempenho em relação ao ODS-7, que trata de energia limpa, e isso se reflete na baixa participação do setor elétrico no total das emissões brasileiras de gases de efeito estufa.
A digitalização é outra área importante na transição energética, pois permite a integração dos sistemas de geração e distribuição de energia, além de possibilitar o uso de fontes de energia descentralizadas e soluções energéticas mais eficientes.
Transição Energética no Mundo
A mudança de energia global é um tópico há muito discutido, assim como no Brasil. Acordos internacionais, como o Protocolo de Kyoto, e mais recentemente o Acordo de Paris, foram assinados por muitos países para reduzir ou eliminar as emissões de gases de efeito estufa. Alguns países, como a Holanda e a França, planejam não apenas usar fontes de energia limpa, mas também reduzir a quantidade de veículos movidos a combustíveis fósseis nas próximas décadas.
A COP 26, em 2021, foi um evento importante em que os maiores produtores de gases de efeito estufa, como China e Estados Unidos, fizeram um acordo para eliminar progressivamente o uso de carvão e limitar as emissões de carbono para manter a temperatura global em níveis aceitáveis.
Com base no Acordo de Paris, o Departamento de Energia dos Estados Unidos estabeleceu a meta de ter 45% de sua matriz energética proveniente de energia solar até 2050, usando o estado da Califórnia como referência. A União Europeia, por sua vez, também estabeleceu metas ambiciosas para alcançar uma matriz energética totalmente limpa até 2030, com 38% de sua energia já gerada por meio de painéis solares e usinas eólicas. Essas metas são impulsionadas por incentivos fiscais e outras facilidades.
O Papel das Empresas na Transição Energética
Muitas organizações mundiais já são pressionadas pelo mercado, clientes, acionistas, investidores e outros interessados em reduzir sua pegada de carbono, incluindo a emissão de gases de efeito estufa (GEEs), em seus processos, produtos e serviços. Em resposta, essas empresas buscam soluções que aumentem a eficiência energética de suas operações e processos.
É importante ressaltar que a transição para fontes de energia mais limpas é tão crucial que está diretamente ligada à Agenda Global, especificamente ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 7, que se concentra em “Energia Acessível e Limpa”, e à meta da ONU de “garantir o acesso confiável, sustentável, moderno e acessível à energia para todos”.
Assim, há algumas maneiras de as empresas contribuírem com o processo:
- Substituir fontes de energia não renováveis por opções alternativas;
- Implementar certificações globalmente reconhecidas para fontes de energia renovável;
- Estabelecer compromissos públicos relacionados ao uso de fontes de energia renovável, redução das emissões de gases de efeito estufa e transição energética;
- Desenvolver e implementar métricas que estejam vinculadas à transição para fontes de energia renovável e integrá-las à gestão estratégica do negócio;
- Adotar, sempre que possível, a economia circular em processos, produtos e serviços, com o objetivo de minimizar a produção de resíduos e otimizar os processos empresariais.
A Progressão para Além da Potência
As mudanças climáticas são o maior perigo global, tornando imperativo que ocorra uma mudança na economia rumo a baixas emissões de carbono. Além da geração de energia renovável, é necessário ter uma visão mais ampla e sistêmica, buscando a maior eficiência possível na utilização dos recursos, com acesso universal e diversificação da matriz energética.
Apesar de todas as transformações, tanto em âmbito nacional como internacional, a progressão energética apresenta um grande desafio para toda a sociedade, de modo que esta década é apontada por estudiosos como decisiva em relação às mudanças climáticas, também conhecida como a “Década da Ação”. Por isso, ações como a redução das emissões de combustíveis fósseis são essenciais, mas não garantem que o estado pré-industrial possa ser atingido novamente, por alguns desses efeitos já são irreversíveis.
Entretanto, a transição para uma economia de baixo carbono não acontece da noite para o dia, devendo a transição energética deve ser pensada, estrategicamente, em níveis local e global. Novos acordos, leis regulatórias e mecanismos de mercado estão sendo desenvolvidos gradualmente para incentivar a transição, sendo a precificação do carbono um deles. Embora não seja uma solução definitiva, esse mecanismo pode apontar a direção a seguir.