Uma mudança significativa no cenário energético global está se desenhando, de acordo com o mais recente relatório do mercado de eletricidade da Agência Internacional de Energia (AIE). O estudo aponta para uma queda no crescimento da demanda de eletricidade em todo o mundo, um fenômeno que se espera que continue em 2023. As economias avançadas estão se adaptando aos impactos persistentes da crise global de energia e a uma desaceleração econômica, contribuindo para essa tendência.
As projeções contidas na atualização de julho do relatório indicam que os Estados Unidos deverão liderar o declínio, com uma queda prevista de quase 2% na demanda de eletricidade este ano. Seguindo essa trajetória, o Japão também está projetado para experimentar uma diminuição de 3% na demanda, enquanto a União Europeia deve registrar uma redução de 3%, alinhada com a queda observada em 2022. A sequência dessas duas quedas consecutivas no consumo de eletricidade representa a maior diminuição já registrada na União Europeia, situando o consumo em níveis não vistos desde 2002.
No entanto, a nível global, a demanda de eletricidade ainda deve crescer a uma taxa um pouco inferior a 2% neste ano, marcando uma desaceleração em comparação com o aumento de 2,3% registrado em 2022. As últimas projeções da AIE apontam para um crescimento mais moderado, atingindo 3,3%. Esse impulso é impulsionado principalmente pela eletrificação contínua dos sistemas de energia, à medida que os esforços para reduzir as emissões de carbono continuam, juntamente com o aumento do uso de sistemas de refrigeração interna devido ao aquecimento global. Além disso, as economias emergentes e em desenvolvimento também contribuem substancialmente para esse crescimento.
O relatório destaca as expectativas de aumento substancial na demanda chinesa de eletricidade, com uma taxa de crescimento média anual de 5,2% prevista para os próximos dois anos. A Índia também se destaca, com um crescimento médio anual estimado em 6,5% até 2024, muito acima das médias de 2015-2019.
Um aspecto notável da transição energética é a ascensão das energias renováveis. O relatório ressalta que, apesar do aumento da demanda em várias regiões, a expansão das energias renováveis está em pleno andamento e é esperado que elas atendam a todo o crescimento adicional na demanda global de eletricidade nos próximos dois anos. As projeções indicam que a participação das energias renováveis na geração global de eletricidade irá ultrapassar um terço até 2024. De fato, se as condições climáticas forem favoráveis, 2024 pode testemunhar a primeira vez em que mais eletricidade é gerada globalmente a partir de fontes renováveis do que a partir do carvão.
Em contrapartida, espera-se que a geração de eletricidade a partir de combustíveis fósseis diminua nos próximos anos. A eletricidade gerada a partir do petróleo deve sofrer uma queda significativa, enquanto a geração a carvão diminuirá ligeiramente em 2023 e 2024, após um aumento de 1,7% em 2022.
Segundo Keisuke Sadamori, diretor de mercados de energia e segurança da AIE, “A necessidade mundial de eletricidade deve crescer fortemente nos próximos anos. Espera-se que o aumento global da demanda até 2024 seja cerca de três vezes o consumo atual de eletricidade da Alemanha.”
O relatório também ressalta um marco importante no caminho para a transição energética: a queda na geração de eletricidade a partir de combustíveis fósseis em quatro dos seis anos entre 2019 e 2024. Isso indica que o mundo está rapidamente se aproximando de um ponto de virada, no qual as energias limpas substituirão cada vez mais os combustíveis fósseis na geração de eletricidade.
Por fim, o relatório explora detalhadamente as razões por trás da queda na demanda de eletricidade na União Europeia, atribuindo grande parte dessa redução a indústrias intensivas em energia que ainda estão se recuperando dos impactos da queda na produção ocorrida no ano anterior. A alta nos preços da energia, exacerbada pela crise geopolítica após a invasão russa na Ucrânia, é apontada como uma das principais influências para esse declínio, o qual persiste mesmo com uma queda nos preços das commodities energéticas e da eletricidade em relação aos picos anteriores.