Há séculos os antigos indígenas da Amazônia utilizavam técnicas ancestrais para criar a Terra Preta de Índio, conhecida como Terra Negra da Amazônia, ao adicionar carvão, cerâmica quebrada, composto e outros resíduos domésticos ao solo. Essas práticas resultaram em solos incrivelmente férteis e produtivos. A Terra Preta de Índio é um exemplo notável de como o biochar pode beneficiar a agricultura e promover a sustentabilidade dos ecossistemas. O solo amazônico é um reservatório abundante de carbono, com sua matéria orgânica representando uma quantidade significativamente maior de carbono do que a biomassa vegetal acima do solo. Essa matéria orgânica é composta por resíduos vegetais e animais em diferentes estágios de decomposição.
Nos últimos anos, o biochar tem ganhado destaque como uma solução promissora para reduzir as emissões de carbono e melhorar a qualidade do solo. Empresas como a Microsoft Corp, JPMorgan Chase & Co. e outras grandes empresas têm adotado metas líquidas zero, buscando neutralizar suas emissões de carbono e mitigar o impacto ambiental de suas operações.
Biochar é um tipo de carvão produzido a partir do aquecimento de biomassa e outros resíduos agrícolas em condições de baixo oxigênio. Esse processo, conhecido como pirólise, transforma a matéria orgânica em um material carbonizado e estável. A pirólise é um processo de aquecimento desses materiais em um ambiente de baixo teor de oxigênio, o que evita a queima completa e resulta na formação de um material carbonizado chamado biochar.
De acordo com o rastreador da Puro.earth, um registro de carbono sediado em Helsinque e adquirido pela Nasdaq Inc. em 2021, os créditos de biochar são comercializados por cerca de € 111 (US$ 120) cada. Embora esse valor seja cem vezes maior do que as compensações baseadas na natureza, ainda representa apenas uma fração do preço atual de outras opções de remoção de carbono, como a captura eletroquímica de carbono oceânico. Ano passado os preços subiram 29%.
A Microsoft, juntamente com empresas como BlackRock Inc. e JPMorgan, tem comprado créditos de biochar como parte de suas estratégias de compensação de carbono. Esses créditos representam a redução ou remoção de uma determinada quantidade de carbono da atmosfera por meio do uso de biochar. No contexto das metas líquidas zero, o biochar desempenha um papel importante ao ajudar as empresas a compensar suas emissões de carbono excedentes e contribuir para um futuro mais sustentável.
A Transformação da Biochar e seus Usos
O biochar possui várias propriedades benéficas quando adicionado ao solo. Ele é altamente poroso, o que lhe confere uma grande área de superfície e capacidade de retenção de água, nutrientes e microorganismos benéficos. Além disso, o biochar é um material estável que pode armazenar carbono por longos períodos, ajudando a reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.
Quando aplicado ao solo, o biochar melhora sua estrutura, aumenta sua capacidade de retenção de água e nutrientes, promove a atividade microbiana benéfica e reduz a lixiviação de nutrientes. Isso resulta em melhorias na fertilidade do solo, na retenção de nutrientes, no crescimento das plantas e na resiliência do ecossistema. A carbonização controlada e lenta dos resíduos agrícolas e biomassa, ao longo de longos períodos, pode resultar na formação de biochar, também conhecido como biocarvão. Essa técnica tradicional de produção de biochar, realizada de forma controlada e com baixa temperatura, tem sido utilizada em diferentes culturas e regiões há milhares de anos.
Quando a carbonização é conduzida de maneira controlada e lenta, o biochar resultante apresenta características que podem melhorar significativamente a fertilidade e a estabilidade do solo. O processo de carbonização remove compostos orgânicos voláteis e impurezas, deixando um material rico em carbono com uma estrutura porosa única.
O biochar é considerado uma solução de remoção de carbono em escala porque possui propriedades de armazenamento de carbono de longo prazo. Quando aplicado ao solo, ele pode reter o carbono por centenas de anos, evitando que ele retorne à atmosfera na forma de dióxido de carbono (CO2), um dos principais gases de efeito estufa responsáveis pelo aquecimento global.
Durante o processo de aquecimento da biomassa, além do biochar, também são gerados bio-óleos e gás, que podem ser aproveitados para a geração de energia. O biochar, por sua vez, pode ser utilizado de diversas formas, como correção do solo ao ser enterrado, incorporação em materiais de construção e em outras aplicações. É importante ressaltar que, a cada tonelada de biochar produzida, aproximadamente três toneladas de dióxido de carbono são capturadas e armazenadas, contribuindo para a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Outro ponto é a comercialização dos créditos do biochar, isso representa um esforço econômico e uma prática sustentável. Além das práticas comerciais, o incentivo de projetos ajuda na construção de uma sólida rede de comercialização voltada para o mercado internacional. Projeções para 2032, colocam os EUA nesse cenário, com U$ 633 milhões.
Promover ações que visem aumentar o estoque de carbono no solo, através da adoção de práticas agrícolas sustentáveis, pode ser uma abordagem mais efetiva e viável do que focar exclusivamente em alterações no conteúdo de biomassa, como o plantio de florestas, para o sequestro de carbono. Isso se deve ao fato de que o carbono no solo é mais estável e tem a capacidade de ser retido por longos períodos, contribuindo assim para o sequestro efetivo do carbono atmosférico. Essa estratégia permite não apenas reduzir as emissões de gases de efeito estufa, mas também melhorar a saúde e a fertilidade do solo, aumentar a resiliência dos ecossistemas e promover a sustentabilidade dos sistemas agrícolas.