A África do Sul sofre com prejuízos de até R$ 257 milhões ao dia devido à persistente crise energética que assola o país desde 2008. A Eskom, empresa estatal responsável pela maior parte do fornecimento de eletricidade no país, enfrenta desafios operacionais significativos. Apenas 53,6% de suas usinas em funcionamento em 2023, e mais de um terço delas fora de operação devido a razões imprevistas.
Os cortes programados de energia, conhecidos como “load shedding”, têm impactado negativamente a economia sul-africana. Isso resulta em perdas diárias de cerca de 899 milhões de rands para o governo, equivalente a R$ 257 milhões. A falta de energia também prejudica setores cruciais, como estabelecimentos comerciais, hospitais e serviços de água, minando a confiança dos empresários em investir na região e contribuindo para a estagnação do desenvolvimento econômico do país, com um crescimento projetado de apenas 0,9% em 2023.
Além disso, a crise energética agravou o problema do desemprego, que atingiu a preocupante marca de 32,7% da população, tornando a África do Sul o segundo país com a maior taxa de desemprego global. A instabilidade na Eskom, marcada pela renúncia do ex-CEO André de Ruyter em fevereiro de 2023 e a subsequente nomeação de Calib Cassim como presidente interino, reflete os desafios de gestão, corrupção e instabilidade política que têm assolado a empresa há anos.
Para enfrentar a crise, o presidente Cyril Ramaphosa tem buscado apoio internacional, firmando parcerias na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26) em 2021. Países como os Estados Unidos, o Reino Unido, a União Europeia, a Alemanha e a França comprometeram-se a oferecer financiamento substancial para apoiar a transição da África do Sul para fontes de energia mais limpas, visando reduzir a dependência do carvão e aliviar a pressão sobre o sistema elétrico nacional.
África do Sul é um dos Maiores Produtores de Carvão no Mundo
A possível transição tardia para fontes de energia mais limpas na África do Sul pode ter consequências devastadoras, segundo um relatório recente do Centro de Pesquisa sobre Energia e Ar Limpo (CREA), sediado em Helsinque. O estudo destacou que se o país, altamente dependente do carvão, fechar suas centrais térmicas após 2030, mais de 15 mil pessoas poderão sucumbir a doenças relacionadas à poluição atmosférica, representando um custo humano significativo.
A estimativa chocante do estudo indica que o atraso na transição energética resultaria em uma perda econômica de cerca de 18 bilhões de dólares (90 bilhões de reais na cotação atual), principalmente em gastos com manutenção. Enquanto isso, a África do Sul decretou estado de catástrofe para lidar com os apagões contínuos que têm afligido o país.
Apesar da necessidade urgente de transição para fontes mais limpas, o país enfrenta desafios internos, com interesses divergentes no governo. Disputas entre defensores do setor de carvão, que sustenta a economia e emprega quase 100 mil pessoas, e defensores de alternativas mais limpas complicam o caminho para uma transição suave.
Com a África do Sul classificada como um dos 12 maiores poluidores do mundo e dependendo em grande parte do carvão para a produção de 80% de sua eletricidade, a discussão sobre a transição energética se intensifica diante das realidades preocupantes relacionadas à saúde pública e à economia. O papel do ministro da Energia, Gwede Mantashe, e seu apoio ao setor do carvão têm adicionado complexidade a esse desafio.